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'Com um autocrata, não se pode ceder nem um pouco': o apoio dos astros a Jimmy Kimmel, enquanto Trump ameaça as redes de TV

Jimmy Fallon, Seth Meyers e Stephen Colbert apoiaram Jimmy Kimmel nos seus programas noturnos de TV, na quinta-feira (18/9) CBS/NBC via Getty Images Com fortes ...

'Com um autocrata, não se pode ceder nem um pouco': o apoio dos astros a Jimmy Kimmel, enquanto Trump ameaça as redes de TV
'Com um autocrata, não se pode ceder nem um pouco': o apoio dos astros a Jimmy Kimmel, enquanto Trump ameaça as redes de TV (Foto: Reprodução)

Jimmy Fallon, Seth Meyers e Stephen Colbert apoiaram Jimmy Kimmel nos seus programas noturnos de TV, na quinta-feira (18/9) CBS/NBC via Getty Images Com fortes críticas e humor muito incisivo, o mundo do entretenimento reagiu à suspensão pela rede ABC, de propriedade da Disney, do programa de Jimmy Kimmel, após os comentários do apresentador sobre o assassinato de Charlie Kirk no seu espaço humorístico. Basicamente, Kimmel declarou, nesta segunda-feira (15), que "a gangue Maga [Make America Great Again, o movimento político conservador do presidente Donald Trump] está tentando desesperadamente caracterizar esse rapaz que assassinou Charlie Kirk como algo diferente de um deles e fazendo todo o possível para ganhar pontos políticos com isso". A Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos (FCC, na sigla em inglês) ameaçou tomar medidas a respeito. E, pouco depois, a rede decidiu retirar o programa do ar "indefinidamente". A decisão gerou uma onda de comentários de distintos tons. O comediante Stephen Colbert defendeu veementemente seu colega. Ele iniciou seu programa "The Late Show", transmitido pela rede CBS, afirmando que "esta noite, todos nós somos Jimmy Kimmel" e que a eliminação daquele espaço é um "flagrante ataque à liberdade de expressão". Colbert também classificou o ato como "censura" e alertou sobre os perigos que, a seu ver, traz a medida tomada pela rede de TV. "Com um autocrata, não se pode ceder nem um pouco", declarou ele. "Se a ABC acredita que, com isso, irá satisfazer o regime, eles são terrivelmente ingênuos." Outros apresentadores, como Jon Stewart, Seth Meyers e Jimmy Fallon, abordaram o tema da liberdade de expressão com "sketches" cômicos nos quais, aparentemente, eles se viam obrigados a elogiar o presidente Donald Trump. Seus programas foram produzidos pouco depois de Trump ter afirmado que as principais redes de TV americanas são esmagadoramente contra ele e poderiam perder suas concessões. 'Parte de um plano' "Digo a Jimmy que estou 100% com você e sua equipe", declarou Colbert. Ele destacou que esta medida foi a "última e mais audaciosa ação de uma campanha contra os críticos dos meios de comunicação". O próprio Colbert teve seu programa cancelado para a próxima temporada. A CBS declarou em julho que a decisão foi "puramente financeira", mas alguns observadores vincularam a medida a uma iminente decisão federal sobre uma fusão envolvendo a Paramount, empresa dona da CBS. Ao suspender Kimmel, a Nexstar Media, um dos maiores proprietários de canais de televisão dos Estados Unidos, declarou que não irá transmitir seu programa "no futuro próximo", pois seus comentários haviam sido "ofensivos e insensíveis". A Nexstar também espera a aprovação federal para outro acordo de aquisição. "Então, alguma vez ocorreu que uma empresa aparentemente cedesse aos caprichos do presidente para garantir o sucesso da sua fusão?", brincou Colbert. "Tudo é questão de relações corporativas." Após sua visita de Estado ao Reino Unido, Trump declarou que "a única coisa" que os programas noturnos "fazem é atacar Trump... Eles têm uma concessão. Eles não podem fazer isso." Colbert respondeu afirmando que este tipo de programa "sempre falou sobre o presidente atual, que é você". "Por isso, digam o que disserem, não se trata apenas do que disse Jimmy na segunda-feira", prosseguiu ele. "É parte de um plano." "Como sei disso? Há dois meses, quando o presidente comemorava com prazer o meu cancelamento, ele publicou: 'Jimmy Kimmel é o próximo a sair.'" 'Programa aprovado pelo governo' Meyers, apresentador do programa "Late Night" na rede NBC, iniciou seu programa de quinta-feira (18) afirmando que o governo Trump está "tomando medidas drásticas contra a liberdade de expressão". E acrescentou, sarcasticamente: "E, sem nenhuma relação com isso, quero apenas dizer, antes de começar, que sempre admirei e respeitei o sr. Trump." Ante as risadas do público, Meyers prosseguiu: "Sempre acreditei que era um visionário, um inovador, um grande presidente e um golfista ainda melhor." O apresentador continuou reproduzindo uma série de gravações de Trump, declarando que havia proibido a censura governamental e restabelecido a liberdade de expressão nos Estados Unidos. Depois de reproduzir outras gravações sobre a situação de Kimmel, Meyers declarou que "é um privilégio e uma honra chamar Jimmy Kimmel de meu amigo, da mesma forma que é um privilégio e uma honra fazer este programa todas as noites". "Acordo todos os dias e agradeço por viver em um país que, pelo menos, pretende valorizar a liberdade de expressão. E continuaremos fazendo nosso show como sempre fizemos: com entusiasmo e integridade..." Seguiu-se, então, um ruído de pum, em referência a uma piada anterior sobre um cavalo defecando em frente a Trump durante sua visita de Estado ao Reino Unido. Voltando ao ponto, Meyers prosseguiu: "Este é um momento crucial... Este é um grande momento da nossa democracia e todos nós devemos defender a liberdade de expressão." "Existe um motivo para a liberdade de expressão estar incluída na Primeira Emenda", destacou ele, em referência à Constituição americana. "Ela está por cima de todas as demais." Jon Stewart foi ainda mais mordaz. Ele começou seu programa na quinta-feira (18) com uma abertura repleta de bandeiras americanas, voos de aviões de combate e uma voz empostada apresentando "o novo 'Daily Show', aprovado pelo governo e apresentado pelo patrioticamente obediente Jon Stewart". Seguiram-se mais de 20 minutos do que ele chamou de "o manual de Jon Stewart sobre a liberdade de expressão na gloriosa era Trump, após sua passagem pelo programa de Kimmel". Durante o programa, Stewart perguntou aos seus sete correspondentes se os críticos e detratores tinham razão. "Donald Trump está reprimindo a liberdade de expressão?", questionou ele. "Claro que não, Jon", responderam em uníssono, com vozes robóticas. "Nós, americanos, somos livres para expressar a opinião que quisermos. Sugerir o contrário é ridículo [risos]." Ele também levou ao seu programa, como convidada, a jornalista filipina ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Maria Ressa, que apresentou seu livro "Como Enfrentar um Ditador" (2022). No "The Tonight Show", da rede NBC, Fallon disse aos espectadores: "Nem eu, nem ninguém sabe o que está acontecendo. Mas conheço Jimmy Kimmel e é um cara decente, divertido e carinhoso. Espero que ele volte." "Muita gente está preocupada se iremos continuar dizendo o que queremos ou se irão nos censurar. Mas eu vou cobrir a viagem do presidente ao Reino Unido como faria normalmente. Aqui vamos nós." "Bem, amigos, o presidente Trump acaba de encerrar sua viagem de três dias para o Reino Unido e..." Neste momento, uma voz em off intervém para dublar o apresentador, dizendo: "[...] Ele parecia incrivelmente bonito". Paralelamente, David Letterman, ex-apresentador de programas noturnos com longa carreira na TV, falou sobre a suspensão de Kimmel no Festival Atlantic, em Nova York, na mesma quinta-feira (18). "Eu me sinto mal com isso, porque todos estamos vendo para onde isso vai, não é verdade?", declarou ele. "São meios de comunicação manipulados. Não servem. É uma bobagem. É ridículo." Limites para a liberdade de expressão Em um país polarizado como os Estados Unidos, a reação à suspensão de Kimmel depende da afiliação política de cada pessoa. E nem todos os apresentadores de programas noturnos têm a mesma opinião. "As pessoas me procuram e dizem: 'Se você é um comediante e está na televisão, deveria estar incomodado com isso.' Na verdade, não estou", declarou Greg Gutfeld, da rede de tendência conservadora Fox News. O painel de convidados de Gutfeld criticou os comentários de Kimmel, argumentando que havia limites para a liberdade de expressão na TV aberta. O apresentador também declarou que os que, agora, defendem Kimmel, já haviam tentado silenciar órgãos de imprensa e comentaristas de direita. "A única forma de detê-los seria se eles soubessem que poderia acontecer com eles", declarou Gutfeld. "Mas realmente é justo pensar assim? Não sei." Por outro lado, o ex-apresentador da rede CNN Piers Morgan afirmou que Kimmel havia causado "compreensível indignação em todos os Estados Unidos". "Por que ele é anunciado como uma espécie de mártir da liberdade de expressão?" Programa de Jimmy Kimmel é tirado do ar pós comentários sobre morte de Charlie Kirk Talk show de Jimmy Kimmel, um dos mais longevos dos EUA, é suspenso após comentário sobre assassinato de Charlie Kirk Trump diz que TVs que o criticam podem 'talvez' perder concessão O que é o ‘alerta presidencial’ de Trump, que provocou multa de US$ 400 mil a programa de TV nos EUA