Antártida dá sinais de mudanças abruptas: gelo marinho em colapso e circulação oceânica em queda
COP30 - O que está acontecendo com o gelo da Antártida? Uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (20) na revista científica "Nature" indica que a Antártida...

COP30 - O que está acontecendo com o gelo da Antártida? Uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (20) na revista científica "Nature" indica que a Antártida entrou numa fase de mudanças rápidas e interligadas: o gelo marinho migrou para um novo patamar de baixa, a circulação oceânica profunda desacelera e espécies como o pinguim‑imperador acumulam falhas reprodutivas desde 2016. Os autores alertam que os diferentes processos na Antártida tendem a se reforçar mutuamente, acelerando os impactos globais, e defendem a necessidade de limitar o aquecimento a um excedente mínimo acima de 1,5 °C Em julho de 2023, a extensão de gelo marinho ficou mais de sete vezes abaixo do limite considerado normal na variabilidade climática; a Circulação de Revolvimento Antártica já mostra queda rápida e pode declinar mais que a AMOC até 2050. O que o estudo encontrou Regime de gelo marinho: após um leve crescimento até 2014, a Antártida passou a perder gelo de forma abrupta. Desde 2017, as médias mensais ficaram com frequência bem abaixo do padrão histórico, e a partir de 2023, em níveis ainda mais extremos. Em julho de 2023, a extensão do gelo atingiu o valor mais baixo já registrado, mais de sete vezes fora do limite considerado normal. O inverno e o acumulado anual também ficaram muito abaixo do esperado — em patamares nunca observados nas reconstruções de um a três séculos. Circulação profunda em queda: observações e modelos indicam declínio rápido na AOC; um estudo sugere que a perda no transporte de Água de Fundo Antártica até 2050 pode ser mais que o dobro da queda na AMOC. Isso intensifica o aporte de Água Profunda Circumpolar sob plataformas de gelo, favorecendo derretimento basal. Ecossistemas sob pressão: desde 2016, ao menos 30 de 60+ colônias de pinguim‑imperador tiveram aumento ou falha completa de reprodução por quebra precoce do gelo fixo; em 2022, houve falha regional completa no mar de Bellingshausen. Risco de pontos de não retorno: a revisão cita a possibilidade de perda irreversível em setores da Antártica Ocidental e cascatas de tipping points (situações em que, ao cruzar certos limites, o sistema entra em transformação acelerada e dificilmente reversível) se o aquecimento e fatores que influenciam as mudanças no oceano persistirem. Pinguins-de-adélia caminhando ao longo da costa da Antártida Matthew Boyer Por que isso importa? A Antártida regula o nível do mar, guarda vastos estoques de água doce e carbono, e influencia a oxigenação das águas profundas. Uma AOC mais fraca pode desoxigenar o oceano profundo e reconfigurar o clima em escala planetária. Metodologia: como os cientistas chegaram lá? O trabalho foi conduzido por um grupo internacional de pesquisadores liderado por Nerilie Abram, da Australian National University, em parceria com cientistas de centros como a Universidade de Monash, a Universidade de Tasmânia, a Universidade de Wollongong e o Instituto Potsdam para Pesquisas sobre Impacto Climático, na Alemanha. Em vez de apresentar novos dados isolados, os autores fizeram uma revisão abrangente das evidências mais recentes sobre a Antártida, reunindo três grandes fontes de informação: Observações diretas — como séries de satélite sobre o gelo marinho e medições oceânicas; Modelos de computador que simulam gelo, oceanos e clima; Registros do passado climático (paleoclima), como núcleos de gelo e sedimentos, que ajudam a entender como o continente respondeu a aquecimentos anteriores. Pontos fortes: o estudo integra múltiplas linhas de evidência independentes e compara o presente com contextos históricos de séculos a milênios, o que dá mais segurança às conclusões. Ressalvas: por ser uma revisão, o trabalho não determina uma causa única para cada fenômeno, mas mostra como eles se relacionam e se reforçam. Além disso, os modelos climáticos apresentam incertezas nas projeções de mudanças no gelo marinho antártico e na representação da Circulação de Revolvimento Antártica, com limitações como a ausência de mantos de gelo interativos ou entradas de água de degelo na costa Antártica em alguns modelos. Para algumas inferências baseadas em monitoramento remoto de ecossistemas, a validação em campo ainda é necessária. O que vem a seguir? Os autores defendem mitigação rápida de CO₂ para limitar que seja ultrapassado o limite de 1,5 °C e adaptação para impactos já em curso, incluindo gestão de riscos a ecossistemas dependentes de gelo e às plataformas de gelo que estabilizam o manto. COP30 - Por que limitar o aquecimento a 1,5°C é a meta perseguida?