Por que Trump quer cobrar R$ 530 mil para vistos dos EUA a trabalhadores qualificados
'Precisamos de ótimos trabalhadores', diz Trump sobre taxa adicional para o visto H-1B Getty Images O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou uma ...

'Precisamos de ótimos trabalhadores', diz Trump sobre taxa adicional para o visto H-1B Getty Images O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou uma ordem executiva que adicionará uma taxa anual de US$ 100.000 (R$ 530 mil) para os candidatos ao programa de vistos H-1B, para trabalhadores estrangeiros qualificados. A ordem de Trump menciona o "abuso" do programa e restringirá a entrada, a menos que o pagamento seja feito. Os críticos há muito argumentam que os vistos H-1B prejudicam a força de trabalho americana, enquanto os defensores — incluindo o bilionário Elon Musk — argumentam que eles permitem aos EUA atrair os melhores talentos de todo o mundo. Em outra ordem, Trump criou um novo "cartão ouro" para acelerar a emissão de vistos para certos imigrantes em troca de taxas a partir de R$ 7,1 milhões. A ordem de Trump deve entrar em vigor em 21 de setembro. Ela se aplicaria apenas a novos pedidos, mas as empresas teriam que pagar o mesmo valor por cada candidato durante seis anos, disse o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. "A empresa precisa decidir... se a pessoa é valiosa o suficiente para pagar US$ 100 mil por ano ao governo, ou se deve mandá-la para casa e contratar um americano", disse ele, acrescentando: "Todas as grandes empresas estão de acordo com isso". Desde 2004, o número de pedidos de visto H-1B foi limitado a 85.000 por ano. Até agora, os vistos H-1B acarretavam várias taxas administrativas que totalizavam cerca de US$ 1.500 (R$ 7,9 mil). Governo Trump vai cobrar US$ 100 mil por ano de empresas que contratarem estrangeiros qualificados Dados do Serviço de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos (USCIS) mostram que os pedidos de vistos H-1B para o próximo ano fiscal caíram para cerca de 359.000 — o menor número em quatro anos. O maior beneficiário do programa no ano fiscal anterior foi a Amazon, seguida pelas gigantes da tecnologia Tata, Microsoft, Meta, Apple e Google, de acordo com estatísticas do governo. Na sexta-feira à noite, a Amazon informou aos funcionários com vistos H-1B que já estavam nos EUA para permanecerem no país. De acordo com um comunicado interno, visto pelo site de notícias dos EUA Business Insider, a empresa disse que aqueles que estão no exterior devem "tentar retornar antes do prazo final de amanhã, se possível". Qualquer pessoa que não consiga regressar antes da ordem entrar em vigor deve evitar tentar entrar novamente nos EUA "até que sejam fornecidas mais orientações", afirma a empresa, segundo a mesma fonte. Tahmina Watson, advogada fundadora da Watson Immigration Law, disse à BBC que a decisão poderia ser um "golpe fatal" para muitos de seus clientes, que são em sua maioria pequenas empresas e startups. "Quase todos serão excluídos devido ao preço. Esse valor inicial de US$ 100.000 (R$ 530 mil) terá um impacto devastador", acrescentou ela, observando que muitas pequenas e médias empresas "dirão que, na verdade, não conseguem encontrar trabalhadores para fazer o trabalho". "Quando os empregadores patrocinam talentos estrangeiros, na maioria das vezes, eles fazem isso porque não conseguiram preencher essas vagas", acrescentou Watson. Jorge Lopez, presidente do grupo de prática de imigração e mobilidade global da Littler Mendelson PC, disse que uma taxa desse valor "freará a competitividade americana no setor de tecnologia e em todas as indústrias". Algumas empresas podem considerar a possibilidade de estabelecer operações fora dos EUA, embora isso possa ser desafiador na prática, acrescentou. O debate sobre os vistos H-1B já havia causado divisões dentro da equipe e dos apoiadores de Trump, colocando aqueles a favor dos vistos contra críticos como o ex-estrategista Steve Bannon. Trump disse aos repórteres na Casa Branca em janeiro que compreende "os dois lados da discussão" sobre os vistos H-1B. No ano anterior, enquanto buscava atrair o apoio da indústria tecnológica durante a campanha eleitoral, Trump prometeu facilitar o processo de atração de talentos, chegando a propor green cards para graduados universitários. "É necessário um grupo de pessoas para trabalhar nas empresas", afirmou ele ao All-In Podcast. "É preciso ser capaz de recrutar essas pessoas e mantê-las." No início de seu primeiro mandato, em 2017, Trump assinou uma ordem executiva que aumentou o escrutínio das solicitações de visto H-1B, com o objetivo de melhorar a detecção de fraudes. As rejeições atingiram um recorde histórico de 24% no ano fiscal de 2018, em comparação com 5% a 8% durante o governo de Barack Obama e 2% a 4% durante o governo de Joe Biden. Na época, as empresas de tecnologia reagiram, criticando duramente a ordem H-1B do governo Trump. A possibilidade de restrições adicionais ao programa H-1B causou grande preocupação em países como a Índia, que é, de longe, o maior país de origem desses pedidos de visto.