Marieta Severo critica ação da GCM contra Teatro de Contêiner em SP: 'me remeteu aos piores tempos de ditadura'
Marieta Severo critica ação da GCM contra Teatro de Contêiner A atriz Marieta Severo criticou e comparou com a ditadura militar a ação truculenta da Guarda...

Marieta Severo critica ação da GCM contra Teatro de Contêiner A atriz Marieta Severo criticou e comparou com a ditadura militar a ação truculenta da Guarda Civil Metropolitana (GCM) contra os artistas do Teatro de Contêiner e membros da ONG Tem Sentimento, que são alvo de ordem de despejo. (Veja acima.) Os coletivos estão instalados em um terreno que pertence ao município — localizado entre as ruas General Couto Magalhães, dos Gusmões e dos Protestantes, onde ficava o "fluxo" da Cracolândia, na região central de São Paulo. ✅ Clique aqui para se inscrever no canal do g1 SP no WhatsApp Na quinta-feira (19), agentes da GCM invadiram o espaço, usaram spray de pimenta contra os artistas e tentaram retirar integrantes da companhia à força. A ação foi registrada por testemunhas. Em vídeo publicado nas redes sociais, a atriz classificou a ação dos guardas como lamentável: "me remeteu aos piores tempos de uma ditadura, que eu vivi, onde os teatros eram invadidos, onde os atores eram ameaçados". Quero deixar aqui a minha tristeza profunda por esse momento, e a minha vontade, a minha esperança de que isso não aconteça mais no Brasil. Não há mais espaço para isso. Nós vivemos uma democracia plena, precisamos dela, gostamos dela, queremos viver nela. E esse tipo de cena não compactua, não pode acontecer na democracia, na liberdade que a gente precisa, principalmente nas nossas artes, na nossa cultura. Marieta Severo critica ação da GCM contra artistas Reprodução Ministério Público O Ministério Público de São Paulo pediu na quarta-feira (20) para o prefeito Ricardo Nunes (MDB) explicar a ação truculenta da GCM contra os artistas do Teatro de Contêiner e membros da ONG Tem Sentimento. O MP se posicionou em relação a um pedido feito pelo mandato do deputado Guilherme Cortez (PSOL). A Prefeitura informou, por meio de nota, que como houve recusa na desocupação de um imóvel ao lado do teatro, "foi necessária uma intervenção da Guarda Civil Metropolitana (GCM)" (leia mais abaixo). Em 6 de agosto, o teatro — considerado referência cultural na cidade de São Paulo — recebeu mais uma notificação para desocupar o terreno. O prazo termina nesta quinta-feira (21), e a companhia ainda não sabe para onde vai. O impasse entre a gestão municipal e o grupo se arrasta desde agosto de 2024. No ofício, o promotor Paulo Destro questiona quem foi o responsável por autorizar a "intervenção" de agentes da GCM com agressões físicas e ameaças com armas letais no terreno e se existe algum mandado judicial ou ordem administrativa, que justifique a ação truculenta. GCM joga spray de pimenta em membros do Teatro de Contêiner que ocupavam prédio em terreno Além de Nunes, também foram oficiados o subprefeito da Sé, Marcelo Vieira Salles e o superintendente do Comando-Geral da GCM, Jairo Chabaribery Filho. Eles têm o prazo de 10 dias para se manifestar. O MP-SP também instaurou um inquérito civil para investigar Nunes por possível improbidade administrativa por conta da ordem de despejo. (Leia mais abaixo.) Pedido de prorrogação Na notificação, enviada em 6 de agosto, o subprefeito da Sé, Marcelo Vieira Salles, afirma que o prazo para saída do teatro é "improrrogável sob pena da implementação da gradação coercitiva". O impasse entre a gestão municipal e o grupo se arrasta desde agosto de 2024. Os gestores do Teatro de Contêiner pontuam que já possuem um cronograma de apresentações e eventos até o final de dezembro, como a 41ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro, financiado pela própria prefeitura. GCMs fazem ação de desocupação do Teatro de Contêiner no Centro de SP Luca Meola/Craco Resiste Lucas Beda, um dos gestores do Teatro de Contêiner, explica que não é possível a realocação imediata do teatro, por isso eles solicitaram à gestão Nunes a prorrogação do prazo de desocupação por mais 120 dias. “Estamos com três convênios junto ao poder público em andamento. São mais de 60 apresentações agendadas para esse ano, dois festivais em andamento, centenas de trabalhadores envolvidos. Receberemos, até o final do ano, mais de 1.500 alunos de escolas públicas de diversos lugares da cidade para assistirem às apresentações artísticas que acontecerão aqui. O que faremos com tudo isso?", desabafa Beda. O Ministério da Cultura também enviou um ofício à prefeitura solicitando a prorrogação do prazo por mais 180 dias para o Teatro de Contêiner — definido como "um dos espaços cultuais mais pujantes da cidade de São Paulo e do Brasil" — encontrar um novo lar. Em resposta ao pedido, a prefeitura informou, em comunicado divulgado na terça, que o pedido de prorrogação do prazo para o grupo deixar o terreno foi indeferido. Segundo a administração, eles foram notificados em agosto de 2024 e já tiveram mais de um ano para planejar a saída. Teatro de Contêiner Mungunzá Reprodução O que diz a prefeitura Em junho, a prefeitura havia anunciado que vai construir um conjunto habitacional no terreno onde ficava o chamado "fluxo" de usuários da Cracolândia, no Centro de São Paulo. O projeto prevê a demolição de um prédio deteriorado e a transferência da sede do Teatro de Contêiner para a construção de duas torres de apartamentos, num projeto entre Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (COHAB) e Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). A gestão municipal informou que "já ofereceu três alternativas de terrenos para os representantes do teatro de Contêiner Mungunzá, sendo que o mais recente, na Rua Helvétia, tem cerca de mil metros quadrados, o triplo da área ocupada atualmente pelo teatro". "O canal de diálogo continua aberto para a transferência do teatro a fim de dar início ao processo de revitalização da região. O prazo para desocupação do imóvel mencionado encerra-se em 21 de agosto de 2025, às 23h59. A partir disso, a Prefeitura tomará as medidas cabíveis para retomar a área", disse em nota. A administração também reforçou que já repassou ao teatro mais de R$ 2,5 milhões em apoio. Projeto da Prefeitura de SP. Reprodução Nunes alvo de inquérito Em junho, o Ministério Público de São Paulo instaurou um inquérito civil para investigar Ricardo Nunes por possível improbidade administrativa na ordem de despejo contra o Teatro de Contêiner Mungunzá e a ONG Tem Sentimento. Além do prefeito, o secretário de Cultura Totó Parente, a secretária de Direitos Humanos Regina Célia da Silveira Santana e o subprefeito da Sé Marcelo Vieira Salles também são alvos da investigação. Segundo o promotor de Justiça Paulo Destro, o MP apura possível "desvio de finalidade ou abuso de poder" de Nunes e dos secretários e "a violação de princípios constitucionais da Administração Pública e dano ao erário e ao patrimônio público e social". A Promotoria também questiona a ausência de diálogo com os coletivos e a possível omissão no reconhecimento do valor cultural do teatro, além de reiterar que é dever da administração pública proteger o patrimônio público e social. Segundo a prefeitura, serão construídas no terreno ocupado pelos coletivos moradias para pessoas de baixa renda. Contudo, segundo o MP, "não há informações detalhadas sobre o referido projeto pela municipalidade". Qual a localização dos coletivos Crocri do terreno em processo da Prefeitura de SP. Reprodução O terreno pertence à gestão municipal e está atrelado a uma construção abandonada ligada ao muro que cercava a Cracolândia e à cena de uso da Luz, que está vazia há mais de duas semanas. Os coletivos ficam no triângulo entre as ruas General Couto Magalhães, dos Gusmões e dos Protestantes.