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Fim do 'juridiquês'? Entenda como segundo maior tribunal trabalhista do país quer simplificar linguagem nas decisões

Sede judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (TRT-15) em Campinas João Gabriel Alvarenga/g1 O TRT da 15ª Região, segunda maior Corte obreir...

Fim do 'juridiquês'? Entenda como segundo maior tribunal trabalhista do país quer simplificar linguagem nas decisões
Fim do 'juridiquês'? Entenda como segundo maior tribunal trabalhista do país quer simplificar linguagem nas decisões (Foto: Reprodução)

Sede judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (TRT-15) em Campinas João Gabriel Alvarenga/g1 O TRT da 15ª Região, segunda maior Corte obreira da Nação, firmou avença institucional com a Unicamp visando a atenuação do vernáculo hermético e da retórica forense excessivamente rebuscada em seus decisórios para maior inteligibilidade e acesso pelo público leigo. Fora do mundo jurídico, o parágrafo acima pode parecer escrito em outro idioma. O texto, porém, retrata um problema que preocupa o Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (TRT-15): a dificuldade que cidadãos podem ter para entender sentenças, acórdãos e outros documentos da Justiça. A solução encontrada pelo segundo maior tribunal trabalhista do país para a questão foi uma parceria com a Unicamp para aplicar, dentro e fora da Corte, técnicas de linguagem simples. Mas não se engane: a mudança vai além de trocar palavras difíceis por sinônimos e envolve uma metodologia própria. 📱 Baixe o app do g1 para ver notícias da região em tempo real e de graça "A linguagem simples não passa somente pelo vocabulário, mas também por frases em ordem direta, frases curtas e elementos visuais do documento, porque hoje também a gente tem uma necessidade de melhorar visualmente os documentos públicos para que eles realmente despertem mais atenção", detalha Thiago Pinheiro Rosa, instrutor da Escola de Educação Corporativa da Unicamp (Educorp) e responsável pelo projeto. Na prática Essa metodologia, chamada de “três por três”, combina a redação oficial, princípios da norma-padrão da língua portuguesa e técnicas de escrita inclusiva. O cuidado inclui evitar termos machistas e capacitistas enraizados no idioma, por exemplo. "Por muito tempo nunca houve a preocupação de você promover uma inclusão por meio do vocabulário. Há um problema, há uma falta de um vocabulário que demonstre a empatia, que é a palavra do momento hoje na comunicação que a gente tem visto. Então a gente tem tomado muito cuidado", diz Rosa. ➡️ O instrutor explica que a linguagem simples inclui algumas etapas: O primeiro passo é desenhar a estrutura do texto, ou seja, a ordem em que as informações aparecem. Para isso, é importante trabalhar questões como objetividade, clareza, concisão e coesão. Depois, é preciso entender quem é o público-alvo daquela comunicação e quais são as características dele. Com base nesses caminhos, é possível adequar o conteúdo e, então, começar a redigir a informação. Finalmente, é hora de aplicar as orientações de linguagem simples, desde as frases em ordem direta à estrutura visual do documento. A parceria entre o TRT-15 e a Unicamp começou com cursos para juízes e servidores. A proposta é que a linguagem simples passe a ser incorporada às decisões e comunicações do tribunal, tornando documentos como sentenças e pareceres mais fáceis de entender. "Tem um conjunto de juízes que são mais tradicionais, então, veem um pouco essa coisa de linguagem como uma simplificação. Depois, com a formação, eles percebem que não é bem assim. É, na verdade, aprimorar a comunicação", afirmou Edison Cardoso Lins, coordenador executivo da Educorp. A iniciativa não é isolada. A Unicamp já aplicou a metodologia em outros órgãos, como o Tribunal de Contas da União (TCU), e também passou a adotar internamente a mesma proposta em diferentes áreas, inclusive na saúde. A demanda, segundo Lins, vem crescendo. “Já tem uma fila positiva de várias câmaras municipais, de vários outros órgãos públicos, Secretaria de Educação, tentando conhecer e incorporar o tema da linguagem simples”. O próximo passo é incluir os novos modelos diretamente no sistema usado por magistrados para emitir decisões. A expectativa é que, até o fim do próximo semestre, cada unidade do TRT-15 tenha acesso a documentos padronizados em linguagem simples. Processos envolvendo horas extras têm alta de 85% no forúm trabalhista de Campinas Pacto nacional Segundo o TRT-15, a iniciativa faz parte do Pacto Nacional do Judiciário pela Linguagem Simples, criado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para incentivar cortes de todo o país a adotar comunicações mais compreensíveis. O pacto prevê, além da simplificação de documentos, medidas de acessibilidade, como tradução em Língua Brasileira de Sinais (Libras) e audiodescrição. Recentemente, o TRT-15 passou a oferecer tradução simultânea em Libras e legendas em audiências telepresenciais. De acordo com o tribunal, a parceria com a Unicamp é parte de uma série de iniciativas que envolve oficinas colaborativas, apoio de laboratórios de inovação e o engajamento de magistrados e servidores na construção de textos mais acessíveis. VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região Veja mais notícias sobre a região no g1 Campinas